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segunda-feira, 16 de abril de 2012

ALGUNS MOTIVOS PARA MIGRAR

Eis que me deparo, no sábado à noite, em uma das avenidas mais movimentadas de Salvador, com um comentário de Théo, aos seis anos de idade: Acho que está tendo um assalto por aqui.  O que mais chamou a atenção, confesso, não foi o fato da possibilidade de ter ou não um assalto perto de mim.  Possivelmente foi fruto até da imaginação dele, cuja cabecinha tem estado envolvida com estórias de guerra, luta, ninjas.  Mas meu choque foi em relação à naturalização da coisa, sem qualquer alteração de voz, medo ou surpresa.  Talvez se tivesse pedido um lanche estivesse mais alterado.  E, com todo conhecimento de causa, me explica o a lógica de seu raciocínio de modo a ter chegado a esta conclusão.
Sem maiores argumentos, quis encerrar a conversa dizendo que esse tipo de coisa não acontece no Canadá, país que não conhecemos mas que já amamos como nosso, encarado por todos desta família como um oásis.  Até que, me responde: "mãe, assaltante tem em qualquer lugar do mundo".  E, nesse sentido, diz que conhece váarios golpes e que aprenderá mais outros tantos, já que luta é 'defesa pessoal', termo que uso para tentar persuadí-lo a desistir da idéia.
É bem verdade, disse.  Mas o 'assalto canadense' é diferente!! Pessoas armadas, colocando outras em perigo, não existe.  Apenas uns roubos, daqueles ocorridos quando alguém esquece algo em um certo lugar e outra pessoa pega e leva.  E o diálogo continuou: "mãe, isso não é roubo... é... normal!"
Claro que não é possível um lugar maravilhoso assim, né? E ele tentou dar continuidade à conversa, para meu desespero.  "Duvido que não tenha meninos assim, da minha idade, com estilingue, e que corre atrás de outros, para roubar ou assustar!!" Que droga! Por que não desiste desta conversa? Saco! Não filho, não tem, meu amor. E, não convencido, ou por achar que a mãe não entende muito das coisas do mundo, pergunta ao pai: É assim mesmo?
Após resposta positiva do maridão, Théo finalmente fala, em tom de euforia: - Oba!!! vou, então, poder andar na rua, no lado de fora do condomínio, se nós morarmos em um, encantado com este novo país que tanto lhe agrada.
E depois de darmos o assunto por encerrado, concluí: Tem, mesmo algumas coisas que estão fora da ordem, e a normalização da violência é apenas uma delas.
Aí eu respondo: Se tenho coragem de ir?? Eu não tenho coragem é de ficar por aqui!!!

boa semana para todos!

Um comentário:

  1. Infelizmente nesse país a violência faz parte de nossa vida desde cedo... ainda bem que a gente percebe que isso está sim fora da ordem, e vai fugir disso...

    Amei a última frase: "Se tenho coragem de ir?? Eu não tenho coragem é de ficar por aqui!!!"
    Faço minhas as suas palavras!!!!!

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