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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dia das crianças e o desafio de ser minimalista

Na minha infância dia de ganhar presente era dia especial.  Salvo raríssimas exceções (como uma viagem de meus pais, por exemplo), ansiava pelo natal, aniversário e pelo dia das crianças para escolher o que queria de presente.  E, talvez devido à pouca diferença de idade na minha casa (quatro irmãos, com seis anos separando o mais velho da caçula), o presente de um, muitas vezes, era partilhado entre todos.  Então,  minha memória emocional destas datas é essa:  de um dia especial, de ficar em família, com brinquedos novos, comida especial na mesa, música tocando no toca-fitas (ou no CD), sobremesas.

E então veio essa perspectiva de mudança para o Canadá. E, com o objetivo de tornar nossa bagagem cada dia menor, com apenas o estritamente necessário, passamos a viver com muito  pouco menos.  Roupa, as crianças vestem até não caber mais (ou até manchar ou ficar esgaçada).  Brinquedos... bom, estes sempre foram difíceis de administrar.

Mudamos já vai fazer um ano da nossa casa para dois quartos no apartamento de minha mãe.  E, com isso, reduzimos a lista dos itens estritamente necessários para viver.  Théo, à época com seis anos, triou o que gostaria de levar para a casa da avó, colocando uns itens à 'venda', doando outros tantos.  Fácil, rápido, indolor. Mas, ao longo desses 11 meses, involuntariamente, foi adquirindo outros tantos itens, o suficiente para encher o maleiro e me encher de rugas.  Quarto bagunçado, maleiro lotado.

Passou seu aniversário, comemoramos o aniversário do irmão.  De repente observo esta criança com comportamento de colecionador, pedindo brinquedos repetidos aos membros da família, apenas para ter mais (que ele nunca consegue, pois sempre perde alguns), ou para igualar a sua coleção ao de algum colega de escola.  Quando questionado sobre o presente que gostaria de ganhar, leva longos segundos sem resposta. Para mim, por um motivo óbvio: simplesmente tem mais do que precisa.

E, juntando a mudança para o Canadá que se aproxima com o fato de que os meninos possuem alguns  vários brinquedos ainda na caixa, sem terem sido propriamente explorados, o dia das crianças aqui em casa vai ser consumo zero!  Conversado com o primogênito (e com os avós das crianças), tudo foi devidamente acertado e concordado.

Mais presença e menos presente.  Esse tem sido nosso lema, essa tem sido a plantinha que tento semear nas crianças.  E, qual não é minha alegria ao perceber que basta uma caixa enorme de rolhas de garrafa de vinho para despertar a criatividade de Théo, preenchendo toda a sua tarde de brincadeiras das mais diversas! Me divirto ainda mais quando vejo Tom cobiçando este novo brinquedo do irmão... mais uma prova de que criança não gosta de presente novo, mas de novidades!!!

Por enquanto tem dado certo por aqui.  Mas, quando penso no natal e tento convencê-lo a pedir dólar para Papai Noel de presente, ainda escuto resistência, tanto do pequeno quanto do maridão.  Estou sendo rígida demais??

O que não podemos, é fato, é estimular o comportamento consumista como tenho visto por aí. 
 O que muito me agrada, e estou bastante otimista com relação a isso, é que, ao que parece, o Canadá não é um país em que o consumo é incitado.  Acho que quanto menor a diferença social, menos necessidade as pessoas têm de TER PARA SER.  Porque a cena que eu vi no shopping esta semana, de pessoas correndo desenfreadamente em busca de determinados brinquedos, comprando mais do que as mãos podiam carregar, dividindo em 10 x no cartão de crédito, satisfazendo um desejo insaciável de consumir, muito me entristeceu.  Isso é típico de países pobres, não? De lugares em que, para uma pessoa se sentir respeitada, inserida na sociedade, precisam comprar, ainda que para isso sacrifique boas noites de sono ao aumentar o  seu poder de endividamento.  Ter crédito, na sociedade de consumo, é ser alguém.

E a máxima cartesiana se inverteu.  Compro, logo, sou...

3 comentários:

  1. Percebo desta forma também, Juliana.A máxima hj em dia é TER para "tentar" SER.E n é assim q funciona.Infelizmente,são poucas as pessoas q percebem isso!bj

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    1. Será que no Canadá vai ser diferente? Assim espero, Marcelo. Já que (quase) todo mundo pode ter acesso aos mais diversos bens materiais, ninguém precisa ter para ser, né?

      Bjs

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  2. Oi, Nádia

    Que bom que o time de brasileiros no Canadá tá aumentando...vocês vão para onde?? Vamos também acompanhar seu blog, ok?
    bjs

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